Combinei uma aula de rap com um maluco da cidade logo ali, depois da pista, no campo de futeba.
- Nunca foi não?
Não. E vai ver foi por isso que distraída andei tanto que me perdi nos caminhos, quase sempre, e demorei até o campo-praça-quadra-parque-banco, deserta. Filtrada por entre galhos das árvores retorcidas, a luz da quase inteira e cheia lua azul do ano iluminando o caminho. Secura e calor, calor e secura.
Espero, mas já desconfiando que é o lugar errado. Volto o ido, contando as pessoas que passeiam com seus cachorros atravesso números e letras, e um quarteirão adiante descubro outra praça. Só que cheia de vida. Crianças correndo-caindo-chorando-levantando atrás da bola, mães e pais que observam e incentivam.
A ironia: na fuga das crianças boleiras e esportistas é bem com elas que encontro, quase obrigação, e espanto. Alguns dos jogadores parecem ter aprendido a andar ainda ontem. Que coisa. País do futebol, dizem.
Certeza que é o lugar errado.
E já ia no meio da volta e meia quando dois moços me abordam perguntando se acho que este mundo pode sobreviver. Pronto: lá se perdeu minha aula de rap substituída por intensivo de preparação pro apocalipse. Argumentos e atores muito bem ensaiados (Jeová explica), citações e recortes grifados na bíblia devidamente aberta e lida pra provar. Pra provar o quê? Cientificamente, seu ponto de vista? A dificuldade de achar o ponto em comum. Ué. Somos iguais, não?
Vai ver era o lugar certo.
Retorno e só aí, no descampado, reparo nas traves caídas.
E então, no café do meu quintal, folhas escritas decoram varais e pessoas começam a se juntar. O cantor miando esganiça Violeta Parra e, pelo avesso e decepcionante, consegue minha atenção. E os outros menestréis candangos de depois também. Música e poesia para marcar território. Assisto tudo sem óculos que é pra não cair em tentação. E testar meus olhos.
Sabiá cantou no sertão, e ele só canta quando chove. O vento não balançou uma folha sequer mas rodou moinhos. 'Vi lagarta no casulo ganhar asas e voar, essas coisas são milagres que só não vê quem perdeu o dom de se admirar, tão certo como é um dia assim será'.
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