Vento Virado: O enterro da última quimera

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Brisas coloridas

"Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando", costumava dizer Ana Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a força de mudar-lhe a sorte por completo.
(Érico Veríssimo - O Tempo e o Vento)

Se todo vento que soprava lá do norte/ me desvia ao noroeste fazendo as folhas virarem/ virando a folha é que eu vi o fim da história/ agora chegou a hora de eu também poder cantar.

(Ventania - Dichavando)

É vista quando há vento e grande vaga/ Ela faz o ninho no rolar da fúria/ E voa firme e certa como bala.

(Sophia de Mello Breyner Andresen - Procelária)

O meu amor corre devagar, anda no seu tempo/ que passa de vez em vento.

(Tulipa Ruiz - Do amor)

Llegar por fin/ a la superficie de las cosas,/ de la mano del aire.
(Salvador Puig - Entre Van Gogh)

A lógica do vento/ o caos do pensamento/ a paz na solidão.

(Lenine - É o que me interessa)

- Sai o fogo das nuvens passa o vento. Cai a água na terra o trovão zoa./ - E um pedaço do mundo se povoa. Dessa ordem que nasce cresce e voa. Dessa sombra de sonhos, reparai. E você cai.

(José Paes de Lira - Mercadorias e futuro)

Dia após dia, ano após ano/ como palavras perdidas no vento/ venha vento, vento vem/ ah, belo seria ver o que vem.

(Ave Sangria - Vento vem)

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens/ a mesma história que eu leio, comovido.
(Ferreira Gullar - Poema)

Lá vai o vento, Brasil adentro/ vai, arrasta a chuva/ assanha estas nuvens de tempestade/ mas sopra doce o seu sopro/ no rosto do moço que fala a verdade.

(Raul Seixas - Canção do vento)

O vento voa,/ a noite toda se atordoa,/ a folha cai./ Haverá mesmo algum pensamento/ sobre essa noite? sobre esse vento?/ sobre essa folha que se vai?
(Cecília Meireles - Epigrama 9)

Vai saber/ se olhando bem no rosto do impossível/ o véu, o vento, o alvo invisível/ se desvenda o que nos une.
(Marcelo Jeneci - Feito pra acabar)

Medo de nuvem/ medo medo/ medo da nuvem que vai crescendo/ que vai se abrindo/ que não se sabe/ o que vai saindo/ medo da nuvem nuvem nuvem/ medo do vento/ medo do vento que vai ventando/ que vai falando/ que não se sabe/ o que vai dizendo/ medo do vento vento vento/ medo do gesto/ mudo/ medo da fala/ surda/ que vai movendo/ que vai dizendo/ que não se sabe.../ Que bem se sabe/ que tudo é nuvem que tudo é vento/ nuvem e vento vento!

(Mario Quintana - Canção da nuvem e do vento)

A minha voz é o vento de maio/ cruzando os ares, os mares e o chão/ e meu olhar tem a força do raio/ que vem de dentro do meu coração./ (...) Eu não conheço rajada de vento/ mais poderosa que a minha paixão/ e quando o amor relampeia aqui dentro/ vira um corisco esse meu coração./ Eu sou a casa do raio e do vento/ por onde eu passo é zunido é clarão. (Doryval Caymmi - Dona do raio e do vento)

O vento morria de tédio/ porque apenas gostava de cantar/ mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,/ cada vez mais vazia.../ Tentei então compor-lhe uma canção/ tão comprida como a minha vida/ e com aventuras espantosas que eu inventada de súbito,/ como aquela que em menino eu fui roubado pelos ciganos/ e fiquei sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo.../ Mas o vento, por isso/ me julga agora como ele.../ E me dedica um amor solidário, profundo! (Mario Quintana - O vento e eu)

Me deixe cavalgar/ nos seus desatinos/ nas revoadas/ redemoinhos/ vento, ventania/ me leve sem destino.

(Biquini Cavadão - Vento ventania)

A nossa casa tem varanda dentro/ tem um pé de vento para respirar.

(Arnaldo Antunes - A nossa casa)

Não se pode comprar o vento/ não se pode comprar o sol/ não se pode comprar a chuva/ não se pode comprar o calor/ não se pode comprar as nuvens/ não se pode comprar as cores/ não se pode comprar minha alegria/ não se pode comprar as minhas dores.

(Calle 13 - Latinoamérica)

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar. (Quintana)

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