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23.8.12

Por las mañanas no me despierto


Tenho ressaca de viver, mas é só durante o dia. Começa a anoitecer e acorda alguma coisa dentro de mim que liga os pontos e sou. Acontece que sempre chega uma hora em o corpo pede pra dormir e eu concordo, e desconfio que é aí que perco as peças no labirinto da cachola. Depois, nem bem o sol explode na janela começa o imenso esforço pra colar as ideias de ontem no agora de hoje. 

Às vezes tento lembrar se sempre foi assim, ou pior ou melhor, mas sei que também é só outra maneira fácil de me perder e adiar. E já me sinto tão desviada do rumo, bem daquele mesmo que não sei qual, tão cansada de tatear no escuro que né. Eterna exausta, como é que se passa de fase?

Vai ver escondi a resposta tão bem que nem eu encontro mais, mil fechaduras. E quando penso que terminei de abrir todas, olho com mais atenção e descubro que era só mais outra casca-camada, como aquelas bonecas russas colocadas dentro umas das outras. Do jeito que a coisa vai, parece que o recheio não é mais do que grão de poeira cósmica. Ou, ainda, será o avesso do grão? Mesmo assim, sem ser visto a olho nu, é preciso estar aberto pra estar pleno, coração. E, com olhos ardidos, continuo debruçada no descortinar sem fim, a única possibilidade.

Mas o reforço às vezes aparece de onde menos se espera, das compartilhações no caminho. (A sua guerreira alivia o fardo da minha.) As histórias-lembranças-planos, o pranto e o riso, todos somos um. Por isso rasgo um pedaço da insolação da madrugada e grudo aqui, nessa tarde escaldante em que meus recentes olhos de coruja piscam pra poder ver e quase quase enxergam além da escuridão.

Tenho sono. E sonhos.  

Mas, por enquanto, basta respirar.



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