Com menos fritura.
E desperdícios.
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30.12.12
25.12.12
Travessia
Escorrendo memórias filamentosas de longas raízes-umbigo desde o chão daqui até esplanada além, vazando pra fora do plano.
Água viva inundando tudo. Hoje de mar e cascata, estrelas e pedras-corais.
Do passado, lágrimas derramadas voltaram até antes de brotar e transmutaram em outra substância, caudalosa, quente e murmurante, adubando o que virá.
O chão sob o pé direito bambeia e corre pro centro em diagonal vertiginosa, o esquerdo gira em espiral sem fim. É agora: vomito ou voo. No lugar em que eu era aguardada, os dados escapam de suas mãos e rolam na sarjeta. Não chego, mas a sorte está do meu lado.
Na hora que acaba é quando explodem os fogos.
20.12.12
Colóquio
'Deus é mais.
Só deus sabe a minha hora.
São frases legais, não tô dramatizando'.
Disse, e ficamos pensando.
Só deus sabe a minha hora.
São frases legais, não tô dramatizando'.
Disse, e ficamos pensando.
19.12.12
17.12.12
Clube do livro
Betoven volta e meia traz revistas cuidadosamente selecionadas com exatamente o que eu preciso perceber.
Algumas vezes Ísquilo se fez de entregador. Com o tempo, gostou da brincadeira e agora também recorta sua própria seleção de periódicos, sempre rabiscados de figuras e letras desenhadas.
Aula de recepção das coisas que não se vê.
Aula de recepção das coisas que não se vê.
Nessa tarde, acomodados no jardim da Lebre de Março, Betoven insiste pra que eu fique com o livro que ele anda lendo, uma viagem fantástica. Não aceito, onde já se viu tirar história no meio do acontecido da mão de leitor? Haja karma, sai de mim. Digo que quando ele terminar e me desculpo adicionando um cordel sobre o lendário Pedro Malazarte na conversação.
Então Betoven, com ares de conspiração, reparte um segredo e revela sua função oculta: era ele o cara incumbido de perguntar, quer participar do clube do livro?
Só isso.
Só isso.
Assim, simples.
Fico surpresa por ficar surpresa.
Desde então faço parte oficialmente filiada.
Fico surpresa por ficar surpresa.
Desde então faço parte oficialmente filiada.
E a alegria dos muitos multiplica com todos os outros que ainda estão por chegar.
(Depois, livro e cordel foram encontrar outros olhos e nem lembrei de perguntar o final. Mas sei que um dia reaparecem, se for o caso.)
14.12.12
Bebedores anônimos de maracujina
- Sossegue que ainda não é a hora.
- Sim sim, tô sabendo. Mas é que faz parte da preparação da personagem.
- ...
- Sim sim, tô sabendo. Mas é que faz parte da preparação da personagem.
- ...
Siroco
Não sei quem viu primeiro: o menininho ou o avô. Ou eu.
Sei que ficamos os três hipnotizados e surpresos.
E felizes: não cai não.
Sei que ficamos os três hipnotizados e surpresos.
E felizes: não cai não.
11.12.12
Silêncio nas palavras
[Ou: "Não leia agora/ eu não quero testemunhas/ dos meus crimes
gramaticais.” Climério Ferreira]
Por comodidade, ou preguiça, ou déficit de atenção, desde sempre anotando coisas pra não esquecer e pra lembrar. Muda de intensidade e de
foco, mas sempre engrenagem importante no auto-ensino de (vi)ver.
Então, um dia, resolvi ser sem muleta. Deitei na grama
ensolarada e fiquei olhando as palavras passarem ligeiras, descasadas com o pensar e sentir. Quando quase, já não era nada daquilo. Cansei e adormeci. Acordei esvaziada
e perdida, fui deixando.
Agora, vontade de simples ficar no que não se
vê, quis de novo, diferente. Não só registro dos dias ou se colocar pra fora, quase um jeito de amar.
Claro que me assustei. Tanto que empaquei de novo. Também por não querer assumir minha participação nos dias se esgotando velozes, por overdose de entender e ainda pelo velho costume das correntes que me atavam a uma outra que fui.
Claro que me assustei. Tanto que empaquei de novo. Também por não querer assumir minha participação nos dias se esgotando velozes, por overdose de entender e ainda pelo velho costume das correntes que me atavam a uma outra que fui.
Muito por medo do que acontece depois.
Sim sim, já tô careca de saber.
Mas é que só agora mudou alguma coisa lá onde nascem os motivos: tentar não porque não existe outra saída mas pra abrir as asas, balançar os pés no abismo.
Talvez ainda demore um tempo até acertar o passo, encontrar a melhor forma de.
Parar de ensaiar a ida, enrolar sem poder, fingir de morta.
Ainda mais sabendo morto o paquiderme pré-histórico que fez casa sobre meu corpo, finalmente liberta dos esqueletos na bagagem que emperravam o movimento e a continuação da história.
Sempre pode ser que eu me perca.
Mas sei também que se sobreviver saio lapidadinha: coisa fina.
7.12.12
Maria
Empoleirada na escada, limpa as persianas e oferece bolo de abacaxi. Bom também, mas melhor mesmo são os caldos, feitos com sorrisos e mãos cheias.
Com olhos sonhadores espia pela janela o azul e aguado dezembro. E aí ensina, sem perceber, a rima do ciclo das águas no cerrado:
'O ruim é que a chuva não tem paradeiro. Agora é o tempo inteiro, até janeiro. Se é ano bissexto, até fevereiro'.
Depois voltamos a esturricar.
5.12.12
Pelo caminho de volta seria que
Rasgo o silêncio e falo. Verdade: a ideia primeira já se transfigurou
exponencialmente.
Muita coisa destampada de recente, cheiro-som-gosto-forma-cor. Mareei.
Quanto mais esvazia mais cheia se descobre.
Só uns dias fora e quase me fagocitam, reentrada vertiginosa na
órbita. Ê centrífuga desgovernada do estar! Pássara do planalto central, será o que foi que se assucedeu?
Daí puxo uma teia de aranha ou um vislumbre de luz sobre a dessincronização
da data estelar que obriga ao eterno retorno do sentido:
A dislexia sentimental multiplica infinta-mente o tempo gasto pro corpo celeste completar o caminho estipulado até o próximo degrau.
Tô cansada, e atrasada, e cansada. Ay tempo desembestado e esse futuro
que nunca chega. Estamos vivendo agora o que era pra termos vivido ontem, merda!, como
conserto o delay?
Quase descubro, só um pouquinho além e... e em seguida são luas e
estrelas e mil estradas escorregadias no ar, de novo vou afrouxando os pontos,
esgarçando os pensamentos, pra despertar sonsa e etérea, precisando refazer
toda a ligação dos canais de entendimento. Sem fim, por 108 milênios.
Agora. A escolha é agora e o agora.
Sem mais. Explode a rebelião. E a cidade conspira.
Nem precisava, que já vinha quase mudando de tom, religada da ponta da
pirâmide até as fontes e elefantes e corujas e golfinhos e tartarugas e lobos e
cavaleiros do apocalipse no porão.
Mesmo assim, que bonito é o desnecessário, nessa noite de Oyá uma festa
de bardos e menestréis clássicos-candangos-pós-modernos pousou debaixo da minha janela, energias
bonitas dançando no terreiro. Exorcismo poético de ambientes. E.
Uma mulher vestida de branco uivou para a lua.
(Era eu, mas não.)
E a utopia é de quem acreditar por último.
“Pelo caminho de volta seria que cheguei, perdida.
Encontrei uma pedra. Fui levando para o fundo do poço.
Moço, moço, moço que agonia, aconteceu
Naquele dia em que você saiu da minha vida.
Tomei dois goles de cicuta,
Puta que pariu como doeu.
Eu vi o céu me arrependi.
Fiquei até com dó de mim.
Meu coração, de tão covarde, é seu.”
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