Ele chega descalço e manchado de tinta, agarra minha atenção e obriga que eu desça do mundo das ideias.
Pensa tão rápido que na hora de soltar o som acaba se atrapalhando: as palavras se emaranham todas e as sílabas se repetem. Mas, como tudo que basta querer para que, lentamente a gente se entende. (Ou entendo eu.)
- Vim te convidar pra ver meu trabalho. Fica lá atrás, bloco E, 167.
Diz que começou a pintar com 2 anos. Mais tarde chegou o dia em que foi simples assim: saiu do colégio e pintou 14 quadros de uma só vez. Mas, sorrindo, confessa que se quiser pode pintar 100 mil.
- Só pinto abstrato.
Digo que mais tarde passo lá, ver sua obra. Conversamos mais um pouco e ele sai lépido e fagueiro como chegou, espalhando convites pras outras pessoas por onde passa. Aula de automarketing.
Quando encontro o lugar, ele exibe satisfeito a obra recém parida, estendida na grama, enorme. A mãe comenta que vai demorar a secar, que vão ter que esperar noite adentro.
Lúcio mostra seus outros quadros. Conta histórias enquanto apresenta todas suas tintas e seus pincéis, que organiza pra bagunçar só pra poder arrumar de novo. No fim revela um segredo e sorri maior: a sacola que guarda sua roupa de palhaço.