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9.6.12

Lúcio



Na tarde de domingo que começa a acabar, almoço na feira olhando o movimento das coisas e tentando não pensar na segunda que já mastiga o tempo. 

Ele chega descalço e manchado de tinta, agarra minha atenção e obriga que eu desça do mundo das ideias. 

Avaliativo, dá uma filmada nas pessoas ao redor e acabo escolhida pra primeira. Vai puxando a cadeira e se aboletando como se fosse velho conhecido. Para-raios de, sempre.

Pensa tão rápido que na hora de soltar o som acaba se atrapalhando: as palavras se emaranham todas e as sílabas se repetem. Mas, como tudo que basta querer para que, lentamente a gente se entende. (Ou entendo eu.)

- Vim te convidar pra ver meu trabalho. Fica lá atrás, bloco E, 167.

E então conta pedaços de vida. Que já fez 6 exposições, logo logo faz a 7ª. Tem 16 anos e dali a alguns dias vai fazer aniversário. Que tem dois irmãos, uma de 19 e um de 23 anos, e sua mãe tem 53. 

Diz que começou a pintar com 2 anos. Mais tarde chegou o dia em que foi simples assim: saiu do colégio e pintou 14 quadros de uma só vez. Mas, sorrindo, confessa que se quiser pode pintar 100 mil.

- Só pinto abstrato.

Digo que mais tarde passo lá, ver sua obra. Conversamos mais um pouco e ele sai lépido e fagueiro como chegou, espalhando convites pras outras pessoas por onde passa. Aula de automarketing.

Quando encontro o lugar, ele exibe satisfeito a obra recém parida, estendida na grama, enorme. A mãe comenta que vai demorar a secar, que vão ter que esperar noite adentro.

Lúcio mostra seus outros quadros. Conta histórias enquanto apresenta todas suas tintas e seus pincéis, que organiza pra bagunçar só pra poder arrumar de novo. No fim revela um segredo e sorri maior: a sacola que guarda sua roupa de palhaço.


Despede-se com um abraço, colorido, e acena enquanto me afasto. Tchau amiga, diz, e o vento espalha na distância as palavras ainda inteiras. Tchau, amigo, vou pensando pelo
caminho recém tingido em technicolor.

5.6.12

Estudo dos ventos

Na mansão de Iansã, hóspede dos ventos. A espera é o aprendizado da falta de medo.

Voltar os caminhos andados recuperando coisas soterradas pela areia do tempo, inacabadas.

É que estou cansada de fugir.

E é tanta gente se convencendo que é inútil desde o início que fica nublado saber o que não se precisa e só se pensa que precisa, tão mais fácil desistir. Tempo que se fecha sem chover.

Sem culpas e com poucas desculpas. Precisava fazer uma escolha e escolhi a mim. Quando não se desiste é porque venceu.

Além das falsas sombras, completa a busca pela intuição, da linha entre todos os opostos brota alma nova e pronta para a guerra (espada de fogo conquistada), fiel à paixão que a move. Espiralando em ventania magnética, dança iluminada, nascida da tormenta, livre e forte para o que há de vir.

E com cabelos de vento.