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22.9.12

De gota em gota

(Bem-vinda!)

Depois da tempestade de areia já nem pensava mais nisso. Em pé, olhos calmos fitando o horizonte através do corpo quebrado e ressequido, dividida entre o entender e o se deixar sentir, num estado puro de tanto-faz-o-que-vier-o-pior-de-tudo-eu-já-passei.

Parte do deserto.

Lady of Storm do lado avesso.

Talvez por isso não vi os sinais e não acreditei muito quando o cheiro invadiu entradas e, denso, me achou na multidão. Nem tentei espiar pra conferir e continuei no programado, bem aproveitando a temperatura pré-fabricada de ambientes artificiais antes de encarar mais uma vez a secura do começo de noite.

Então o moço viu e me mostrou: 'tá chovendo!'

Riu quando eu contei que ia embora dançando na chuva mas bem sei que era a vontade secreta de muita gente na cidade, tal comoção geral se espalhou nos rostos agradecidos.

(No meu pensar, inclusive, me vi foi bem com a língua de fora tentando apagar o fogo de dentro.)

Mas como se completa o que já estava completo? Ter pressa e ao mesmo tempo adiar o agir só pra sonhar um pouco mais com como seria o momento assim que... então lembrei da lição do agora, fisguei a vontade e segurei o quando pela mão. Saímos um só.

Na segunda pisada fora, tiozinho de butuca chega fluente no dialeto dos que tudo vendem oferecendo guarda-chuva, desde quando esperava prevenido?, respondo não e ele entende, rimos os dois. Na verdade todo o mundo está rindo, vontades lavadas.

Nessa altura o pó já assentou nos caminhos recém brilhantes, mas os 3 pingos que caiam aqui e ali evaporavam antes de tocar na pele. Ando mais um trecho, frustrada, sensação vaga de ter caído na pegadinha do malandro.

Então chego na outra asa do pássaro e a festa vira verdade. Tanta alegria que nem me preocupo com as maquininhas e livros que carrego, o universo cuida. De tão agradecida da água, que lavou o sangue coagulado do dragão ferido, que saí do pensar. Só fui, inteira.

E estou. Noite feliz de jardineira: depois de 103 dias sem chover a água desce justamente depois de terminados os novos arranjos no paisagismo interior. Bom sinal, bom sinal. Cobras de luz no céu.



2.9.12

Vampiro doidão


Ou: Morcegos equilibristas.


Viaja que é um vampiro desses de filme.

- Nunca sonhou em morder meu pescoço não?

- Nem há 35 vidas atrás.

- Uma pena, suspira. Mas não esquece da ideia não... e continua lombrando um monte de atrizes provocantes na cena imaginária e a saliva que pinga dos caninos proeminentes esfria seus pés.

Mastiga outros enredos e então pede:

- Quando eu morrer me enterra de pé?

- !?

- De pé, deitado não. Abre um buraco menor. Minha irmã é uma caipirinha, não vai querer fazer isso. Cê faz?

- ?!

- É que eu quero voltar!

- ...

1.9.12

Flor da chuva

Ver desabrochada no cerrado, sem previsão de chuva, quebrou uma vida inteira de confiança.