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20.7.12

Canção pra dois

Com sorriso no rosto, brincam de cantar pedaços de músicas. Ele lembra, feliz!, que tem um radinho na mochila: 

Quando deus te desenhou ele tava namorando... bbrrzz!... eu não existo longe de você e a solidão é o pior castigo... bbrrzz!

Então encontram Aquela, a que cantam inteira e a plenos pulmões. Talvez pra afastar a possibilidade do futuro, talvez por gostar da música, e talvez por toda outra tal vez que existir.

De mãos dadas: e agora?, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer...



18.7.12

Dia de cajá-manga

- Mamãe cadê Maria?

- Maria foi passear.

Os passeios de Maria fazem papai e mamãe chorar.

9.7.12

Quando o vento virou

Tudo calmo e igual no castelo das ideias que esperam o tempo de nascer.

Uma brisa morna, carregada de cheiros e imagens de outros lugares, ondula a saia das nutridoras de futuro e espalha lembranças de flores pelo ar. Insistente, enrosca em minhas pernas e me puxa pelo braço querendo mostrar a hora em que a semente quebra a casca. Resisto, preguiçosa de saber, feliz com o pouco que já vi.

Não sabia do perigo que espera os que se opõem, descubro atravessando.

Uma rajada brusca levanta poeira cósmica do chão e enche minha visão de cacos coloridos, sem dó. Pisco várias vezes, cega, enquanto meu corpo é sacudido por mão invisível. Quando consigo abrir os olhos me assusto: sobre minha cabeça tudo está suspenso e vivo. Dança enlouquecida das estações, meio dia e meia noite no mesmo céu de agora.

Boquiaberta observo enquanto palavras saem de mim, uma a uma, indo somar corpo à nuvem gigantesca que paira no céu. Depois das palavras perco as recordações, o que pensava saber e sentir, toda a história até aqui. Perco o corpo e perco o nome. A boca que já não tenho seca com o calor de mil desertos, meus pés áereos sobem para o tornado enquanto enxergo tudo por um olho que não pisca e não existe. Sentiria vertigens se ainda soubesse como.

Centrifugada em minha própria natureza. O que sobra depois que tudo foi removido? Algo rasga o estar, um relâmpago escorrega do centro flutuante em que pairo, o barulho só chega depois. Desço com eles mas continuo no alto, a massa incolor de tudo que se foi aquieta em seu carro-céu. E desaba.

Tudo inunda. Da água nasce um novo corpo, novas combinações dos mesmos elementos pelo avesso, mas com algo que não havia, um vento-alma forjado no fogo e grito do raio, centelha divina. Tudo mudado, viajante estelar perdida em chão de planeta desconhecido.

Lentamente começo a me mexer, acordando de sono milenar. De tão lúcida me sinto irreal. Volto da morte para vida nunca vivida, plena. 

Transfigurada.


Imaginagem: internet.com

1.7.12

Rádio Braza


Marca o compasso na caixa de fósforos enquanto gela a bunda na escadaria do bloco.

Noite clara, no suposto frio da terra do verão eterno, desenhos dançam animados nas sombras refletidas no chapiscado estourado do muro.

- É doido véi. Pra curtir o rap tem que ouvir a letra, entendeu? Tá ligado? Presta atenção na letra aí você não vai odiar rap, nem sendo lá do sul. Você vai amar rap. É igual samba, vai rimando assim e assim só que é um batidão: tum tundum tum.

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